quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Fred na concentração...

Publicado em 7 de setembro de 2011 às 15h47

Bate-papo com o capitão Fred na concentração em Uberlândia


Jogo do Fluminense em Minas Gerais faz lembrar Fred, não tem jeito. Mineiro de Teófilo Otoni, o camisa 9 começou sua carreira no América-MG e apresentou-se para o mundo no Cruzeiro, clube do qual nunca escondeu ser torcedor e onde fez a sua história. Aliás, nesse bate-papo diretamente da concentração tricolor em Uberlândia, local do jogo de logo mais contra a Raposa, no Parque do Sabiá, o atacante relembra esses seus tempos de infância e fala um pouco mais sobre sua vida: a filha Geovanna, os tempos de futebol europeu, os gols e jogos marcantes, os amigos, o ídolo, seu estilo musical… Enfim, conheça mais sobre Frederico Chaves Guedes, que está próximo da marca dos cem jogos pelo Tricolor – lá se vão 93 partidas e 55 gols. Confira:
O que dizer de Minas Gerais: “Quando eu piso aqui, realmente tenho a sensação de que estou na minha casa. Passei toda a minha infância em Minas. E morei em vároios lugares aqui: Teófilo Otoni, Ipatinga, Belo Horizonte… Minha família toda ainda mora aqui: pai, filha, irmãos, tios, avós… Quando moleque, lembro de ir aos jogos do Cruzeiro, de bater bola na rua, fazendo golzinho com pedras ou latas, soltava pipa.. Mas o que gostava de fazer mesmo era jogar futebol o dia inteiro. E ficava mais divertido ainda quando chovia e o campinho ficava encharcado. Era o dia em que todos os peladeiros não faltavam. Ficava muito molhado e a gente dava um corte, um carrinho, e se divertia. O que sinto de diferente aqui em relação a outros lugares é o tratamento do povo, que quer todo mundo bem e tem um modo de vida mais simples, mais retraído, mais educado, mais conservador. Gosto de um povo assim.”
Os tempos de Cruzeiro: “Tudo começou, na verdade, com um tio meu, o Rogério, irmão da minha mãe, que me colocava na garupa da moto dele e me levava para o Mineirão. Assistia a todos os jogos, desde os seis anos. E, como disse, também sempre gostei de jogar bola. Meu pai tentou ser jogador, era zagueiro, chegou a jogar nos juniores de Cruzeiro e Atlético-MG. Meu irmão também jogou, e este jogava demais. Era lateral-esquerdo ou meia. Fui criado vendo-o jogar. Jogou no Venda Nova, equipe de base de BH, mas ele também não chegou a se profissionalizar. Um outro tio, o Marcelo, jogou no Cruzeiro. Todos diziam que era o craque da família, lateral-direito, mas não seguiu carreira. Voltando ao Cruzeiro… Seria hipocrisia esconder que sou cruzeirense. Tenho um carinho acima da média com a torcida e com o clube. E o torcedor do Fluminense entende isso, tenho certeza. O ciúme é normal, mas dou minha vida por onde passo.”
Momento marcante na vida: “O nascimento da Geovanna. Eu tinha 22 anos, já estava no Lyon (FRA). Foi o momento mais maravilhoso que eu tive na vida. Lembro todos os passos, tudo o que aconteceu. Fiquei dois dias bem bobo quando ela nasceu. Lembro que, no hospital, não queria deixá-la no berçário sozinha, com medo de trocarem ela. Fiquei à noite acordado olhando pra ela, com medo de ela virar e acontecer alguma coisa de errado. A partir dali, a vida passou a ser diferente pra mim.”
Momento marcante na carreira: “Onde começou tudo, no América-MG, com aquele gol mais rápido da história do futebol brasileiro, do meio do campo. Com certeza, aquele lance me alavancou, despertou o interesse da imprensa em mim. Depois, teve o Cruzeiro, onde tive uma média de um gol por partida logo no meu primeiro ano. Em seguida, minha transferência para a Europa, os títulos que vieram no Lyon. E a Copa do Mundo, em 2006, quando me senti muito diferente. Eu esperava aquela convocação… E deu tudo certo. E fechando com o Fluminense de 2009, mais até do que o de 2010. Nosso primeiro pensamento naquela fase difícil era buscar o melhor para nós mesmos, de não ficar mais envergonhados do que a gente já estava. Após o primeiro sacrifício, da primeira vitória, vimos que dava para chegar. A cada jogo, uma superação, E tínhamos que ganhar e também torcer contra os outros de cima. E conseguimos.”
Um jogo memorável: “o que joguei no dia do nascimento da minha filha: Lyon x PSV, da Holanda, pelas oitavas de final da Champions League. O treinador chegou a dizer que, se eu não fosse para o hospital, eu seria ttular, e que se eu fosse e chegasse em cima da hora, eu ira para o banco. Mas a Geovanna nasceu à noite. Fui de escolta para o estádio depois. Cheguei na hora do aquecimento e fui para o banco. Entrei aos 15 do segundo tempo, e fiz o gol mais bonito da minha carreira. O jogo terminou 3 a 0 pra nós. Outra partida que sempre me recordo também foi aquela contra o Cruzeiro, em 2009. E, antes do jogo, a torcida do Cruzeiro, uns 70 mil no Mineirão, ficou gritando ‘Fred guerreiro, volta pro Cruzeiro’. Fui no banco, todo mundo me abraçando, perguntando quando eu iria voltar… Eu me emocionei, aquilo, claro, mexeu comigo. Demorei uns 15 minutos para entrar no jogo. Perdíamos por 2 a 0 até vir aquele segundo tempo espetacular. Se a gente perde ali, estaríamos praticamente rebaixados.”
O gol inesquecível: “O que marquei na Copa do Mundo de 2006, contra a Austrália. Parecia até que eu não estava acostumado a comemorar gol. Fiquei tão maluco e emocionado que nem sabia para onde correr. Só procurei as camisas amarelas para vibrar com eles. Qualquer gol com a camisa da Seleção te projeta ainda mais. E ali o mundo estava de olho. Foi bem diferente.”
O que significa o Fluminense: “O retorno para a minha casa, para o Brasil, O Fluminense significa acreditar nas vitórias até o fim, significa muito sacrifício em campo, dificuldade… Tudo caminha assim desde que cheguei. Confesso que, quando os resultados são postivos, o que aconteceu nesses dois anos em que estou aqui, a sensação do dever cumprido é muito grande. A torcida sempre esteve do meu lado e tenho um carinho enorme por ela.”
Uma equipe para a história: “Que eu tenha participado, a de 2006 do Lyon. Dava para brigar pelo título da Champions League 2005-06. Fomos eliminados pelo Milan nas quartas de final, no San Siro, com gols aos 43 e 48 do segundo tempo. E um deles, do Inzaghi, ainda foi chorado, depois de a bola bater nas duas traves e cair no pé dele. O nosso time tinha o Coupet no gol, Caçapa e Cris na zaga, Anthony e Abidal nas laterais, um meio-campo com Diarra, Tiago, Juninho Pernambucano e Malouda, e eu e Govou no ataque. O treinador era o Gérard Houllier. E o time que eu admiro, o mais bonito de se ver jogar, é esse Barcelona de hoje. Um absurdo! Nunca vi um time igual a esse.”
Uma seleção: “A de 2006, que ganhou a Copa América, a Copa das Confederações… O time era muito bom. Tinha Ronaldo, que para mim é o maior que já existiu e que eu tenha visto jogar. O Gaúcho, o Kaká voando, o Adriano bem, o Lúcio, maior zagueiro que já vi jogar… Era um grande time.”
Um ídolo: “Justamente o Ronaldo. Quando moleque, eu já o acompanhava. Eu me lembro dele da época de Barcelona. Era completo. O que mais me impressionava nele era a força e a habilidade. E sabia como poucos fazer gol. Sempre falei: quero ser parecido com esse cara, fazer pelo menos um pouco do que ele faz. Era acima da média.”
Um técnico: “O Mauro Fernandes, que me ajudou bastante no América. Foi meu primeiro técnico como profissional. Eu era garoto, estava subindo ainda, quando ele assistiu a um jogo meu nos juniores. Disse que gostou do meu desempenho. Ouvir isso, ainda garoto, motiva muito. Eu me senti especial, senti que estava no caminho certo. No ano seguinte, subi, ele me deu uma oportunidade e confiança para jogar. Fiz gol no primeiro e no segungo jogos. No terceiro, não marquei e não joguei bem, mas ainda assim me manteve entre os titulares. E apostar num garoto no meio de tantos outros que ganhavam muito mais e tinham moral no elenco, não é fácil. Outro técnico que guardo com carinho é o Levir Culpi. Quando ele chegou no Cruzeiro, virou para mim e disse: ‘Vou fazer de você o maior artilheiro do Brasil’. Às vezes, estava morto de cansaço, mas ele não me deixava sair do treino sem treinar muita finalização, cobrança de falta, pênalti… Fui capitão aos 21 anos com ele, pela primeira vez. Como homem, é um cara sensacional, pelo seu caráter, pela parceria, educação… Nunca vi igual.”
Um país: “Gostei muito da França. Para viver, é um país maravilhoso. Para jogar, adorei o clima da Inglaterra, com ambientes de final de Copa em todos os jogos, com estádios sempre lotados. Tenho uma vontade, não tão grande como antes, de jogar um dia na Espanha. E o Brasil, apesar de todos os problemas, é o meu país e não o troco por nada.”
Um filme: “Chamas da Vingança, com o Denzel Washington. Não perco um filme com ele e com o Bruce Willis. A série ‘Onze Homens e um Segredo’ também curto muito. Outro grande filme é ‘Paixão de Cristo’, dirigido pelo Mel Gibson. Vou muito ao cinema. Curto demais.”
Estilo musical: “Toca de tudo no meu iPod, qualquer música boa, de gospel a sertanejo, passando por eletrônico, pagode, samba… Depende do meu estado de espírito. Não tem nada que eu não ouça. O único que tenho um pouco de dificuldade para ouvir é aquele rock mais pesado, metaleiro.”
Um amigo: “Tenho dois irmãos de fé: o Barriga, que conheço desde os meus sete anos de idade, lá de Teófilo Otoni, e o Bruno Barros, que jogava nos juniores do América-MG. Ele tinha muita moral lá e me levou para jogar no clube. Cheguei a ser dispensado. Foi aí que ele reuniu uns quatro ou cinco jogadores, meus amigos também, e foram lá no pessoal do profissional. No dia seguinte, assinei meu primeiro contrato profissional, de três anos. Duas semanas depois, trocou o treinador e já virei titular.”
Superstição: “Nada, mas eu tinha antes, nada demais. Quando entrava em campo, lá na França, um diretor que me contratou lá, que está na história do clube como o jogador com mais gols com a camisa do Lyon, toda vez antes dos jogos me obrigava a ficar finalizando. E ele ficava lá da cabine me observando. Se eu não fizesse… O que faço sempre é orar antes de entrar em campo. Coloco minha música evangélica para ter aquele meu momento com Deus e entro mais fortalecido. Peço proteção para evitar lesões e coisas ruins. E peço saúde, força e sabedoria para desempenhar bem o meu papel.”
Internauta?: “Sou. E muito! Tenho tudo: Twiitter, Facebook, Skype para ver minha filha bastante… E vejo tudo na internet. Não só esporte. Primeira coisa que já faço é entrar na página do Fluminense. Depois, passo a ver as notícias sobre tudo. Mas, quando as coisas não estão boas, evito entrar. Largo tudo.”
Autor: Erich Onida (Assessoria de Imprensa)